sábado, 2 de julho de 2016

A triste geração que virou escrava, por Mia Couto

Hoje cito um texto de um escritor que admiro muito, Mia Couto e que não poderia ser mais certeiro na minha forma de ver a vida e de como eu quero seguir a minha vida.
Dantes dizia: "Não sei o que quero, mas vou sabendo o que não quero". Agora o meu discurso mudou, agora digo: "Sei o que quero e não é isto!" Não é pelo que a sociedade espera de mim que eu vou comandar a minha vida. Recuso-me a ser escrava.

"E a juventude vai escoando entre os dedos.
Era uma vez uma geração que se achava muito livre.
Tinha pena dos avós, que casaram cedo e nunca viajaram para a Europa.
Tinha pena dos pais, que tiveram que camelar em empreguinhos ingratos e suar muitas camisas para pagar o aluguer, a escola e as viagens em família para pousadas no interior.
Tinha pena de todos os que não falavam inglês fluentemente.
Era uma vez uma geração que crescia quase bilíngue. Depois vinham noções de francês, italiano, espanhol, alemão, mandarim.
Frequentou as melhores escolas.
Entrou nas melhores faculdades.
Passou no processo seletivo dos melhores estágios.
Foram efetivados. Ficaram orgulhosos, com razão.
E veio pós, especialização, mestrado, MBA. Os diplomas foram subindo pelas paredes.
Era uma vez uma geração que aos 20 ganhava o que não precisava. Aos 25 ganhava o que os pais ganharam aos 45. Aos 30 ganhava o que os pais ganharam na vida toda. Aos 35 ganhava o que os pais nunca sonharam ganhar.
Ninguém podia os deter. A experiência crescia diariamente, a carreira era meteórica, a conta bancária estava cada dia mais bonita.
O problema era que o auge estava cada vez mais longe. A meta estava cada vez mais distante. Algo como o burro que persegue a cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo.
O problema era uma nebulosa na qual já não se podia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era ambição, o que era ganância, o que necessário e o que era vício.
O dinheiro que estava na conta dava para muitas viagens. Dava para visitar aquele amigo querido que estava em Barcelona. Dava para realizar o sonho de conhecer a Tailândia. Dava para voar bem alto.
Mas, sabe como é, né? Prioridades. Acabavam sempre ficando ao invés de sempre ir.
Essa geração tentava se convencer de que podia comprar saúde em caixinhas. Chegava a acreditar que uma hora de corrida podia mesmo compensar todo o dano que fazia diariamente ao próprio corpo.
Aos 20: ibuprofeno. Aos 25: omeprazol. Aos 30: rivotril. Aos 35: stent.
Uma estranha geração que tomava café para ficar acordada e comprimidos para dormir.
Oscilavam entre o sim e o não. Você dá conta? Sim. Cumpre o prazo? Sim. Chega mais cedo? Sim. Sai mais tarde? Sim. Quer se destacar na equipe? Sim.
Mas para a vida, costumava ser não:
Aos 20 eles não conseguiram estudar para as provas da faculdade porque o estágio demandava muito.
Aos 25 eles não foram morar fora porque havia uma perspectiva muito boa de promoção na empresa.
Aos 30 eles não foram no aniversário de um velho amigo porque ficaram até as 2 da manhã no escritório.
Aos 35 eles não viram o filho andar pela primeira vez. Quando chegavam, ele já tinha dormido, quando saíam ele não tinha acordado.
Às vezes, choravam no carro e, descuidadamente começavam a se perguntar se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão ruim como parecia.
Por um instante, chegavam a pensar que talvez uma casinha pequena, um carro popular dividido entre o casal e férias em um hotel fazenda pudessem fazer algum sentido.
Mas não dava mais tempo. Já eram escravos do câmbio automático, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das expectativas da empresa, dos olhares curiosos dos “amigos”.
Era uma vez uma geração que se achava muito livre. Afinal tinha conhecimento, tinha poder, tinha os melhores cargos, tinha dinheiro.
Só não tinha controle do próprio tempo.
Só não via que os dias estavam passando.
Só não percebia que a juventude estava escoando entre os dedos e que os bónus do final do ano não comprariam os anos de volta."

Mia Couto

sexta-feira, 17 de junho de 2016

YAY! Uma marca para rapazes!

Estava a ver que não! Tantos fofos, tantos folhos e não via nada para o meu bebé cheio de pinta!
até que hoje conheci esta marca e apesar de ter poucas peças, já me perdi com algumas comprinhas para o Vi.
A YAY desde, como tantas marcas, de duas mães de rapazes que queriam provar que vestir os meninos pode ser uma tarefa fácil, divertida e, acima de tudo, cheia de pinta!
Espreitem lá se não é linda a coleção:

Ela é linda sem make up


Levam tudo muito à letra e depois dá nisto! Pôs-se a ouvir a música do Agir e agora toca de mostrar as sardas e olheiras e tudo e tudo!

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Os Pequenos Prazeres da Vida

Ontem enquanto esperava que o Vicente acordasse da sesta na casa da avó aproveitei para ter um daqueles momentos só meus. E tão bom que foi...
Descalça em casa (um hábito que estou ganhando aos poucos), ao som de Vinicius de Moraes, parecia que tinha apanhado um avião para o outro lado do Atlântico.
O sol do jardim a entrar-me pela casa a dentro, a tv desligada e simplesmente pus-me a cozinhar, algo que ando a ter cada vez mais prazer. E fi-lo mesmo por prazer, não por ser uma dona de casa extremosa.
Há 10 anos atrás a vida ensinou-me a desfrutar dos pequenos prazeres da vida, ontem foi um deles e algo me diz que muitos do género virão.

News soon. Stay tuned! :)

Metamorfoses

Sempre fui uma pessoa de emoções fortes mas se me dissessem que numa semana iria passar tudo o que estou a passar, certamente diria que a seguir ia-me entregar ao álcool! E vamos ver se não opto por esse caminho entretanto...
Sábado fomos pôr a minha mãe num lar, um sítio lindo com uma paz imensa e onde sei que ela está muito bem entregue mesmo e que é o melhor para ela, mas ninguém tira a dor física que senti no coração ao fazê-lo. Dói demais. Acho que se me arrancassem o coração nesse dia, ele estaria a sangrar.
O que me vale é o meu otimismo que me faz acreditar que todos os dias dói um bocadinho menos... E o descanso de saber que ela está bem.

(não acabei este post, se calhar porque era mesmo para ficar assim...)