domingo, 4 de março de 2018

O Puzzle do Vi



Ser mãe é realmente muito desgastante, mas muito mais do que parte física da logística toda, de fraldas, acordar a meio da noite, biberões, banhos, e todas as logísticas de cada fase da vida destes pequenos seres exigem, a parte psicológica é a que mais de deixa de rastos.
Nesta fase que temos de educar e que cada simples palavra que dizemos pode ter uma consequência no carácter que estamos a ajudar a desenvolver. Esta sim, é a parte que me cansa mais.
Acho que este tem sido o início do meu processo para uma parentalidade consciente, que tanto se fala hoje, e como é dificil.

Então não é mais facil resolver tudo à base da chantagem? Claro que sim! "Não comes, não há tv", "Não vens agora para a cama, não há história para ninguém!" Tão mais fácil... Mas e as consequências disso? Criamos pessoas que quando crescerem vão resolver tudo à base da chantagem também, pois não sabem melhor?
Mais do que isso, outra coisa que tenho pensado imenso do que tenho lido também sobre o assunto é, e então os direitos da criança? Não andamos a negligenciar os direitos das crianças? Se vivemos em comunidade (seja ela da sociedade ou simplesmente em família) porque é que o desejos e direitos de uma criança não podem ser respeitados como os de um adulto?
Vou tentar dar um exemplo: Vamos sair para almoçar e já estamos atrasados, o meu marido vai fumar um cigarro ainda antes de ir e eu respeito. O meu filho quer, literalmente, só mandar um carrinho pela pista de automóvel (coisa de meros segundos) e isso já não posso esperar. Porque se eu digo que é para vir agora, tem de ser agora.
Obviamente tudo com conta, peso e medida. Não estou a dizer que se agora ele quiser demorar 3 horas para sair, eu vou pacientemente esperar, não vou. E vai haver dias que nem 3 minutos, mas às vezes "compramos guerras" com as crianças só por não respeitarmos as vontades e os timings deles.
Desde que realmente quando dizemos para vir embora, ele me pede só mais um bocadinho e esse bocadinho seja respeitado para ambos os lados, porque não dar? Evitamos conflitos, desgaste da relação, frustações...

A questão é que nem todos os dias esta clareza de pensamento nos vem ao de cima. Às vezes acabamos por descarregar em cima deles as nossas frustrações e preocupações que nada tem a ver com o pedido que ele nos faz. Ou porque já vai chegar tarde à escola (não ia de qualquer maneira?), ou porque vamos apanhar um trânsito louco ou um milhão de coisas que temos em mente ao mesmo tempo.

Esta semana tive um episódio desses com o meu filho de manhã, um daqueles que nos deixa o dia todo com peso na consciência e que só queremos chegar a casa, abracá-los e pedir desculpa. Sim, eu peço desculpa ao meu filho. Sei que estou longe de ser perfeita e é bom que ele tenha consciência disso. E mais, como o posso ensinar a pedir desculpa se eu própria não lhe peço?

Estávamos numa manhã, como sempre atrasados, e o Vicente quis levar o puzzle no bibe para a escola. E eu, com toda a calma do mundo (juro!) expliquei-lhe que era melhor não, porque bastava perder uma peça e nunca mais conseguia fazer o puzzle. Ele insistiu, eu expliquei. Ele insistiu, eu voltei a explicar. Ele começou a fazer uma birra, eu expliquei. Apresentei uma alternativa, levar uns bonequinhos em vez do puzzle. Continuou a birra. Até que virei bicho.
Já estava ele disposto a levar os bonecos (uns 20) e eu já tinha acabado a minha negociação. Fui autoritária e já não o deixei levar nada. Nem um único brinquedo.
Conclusão: ele foi triste para a escola, eu fui triste para o trabalho e provavelmente a ele passou-lhe passado 5 minutos e a mim demorou o dia todo.

Agora pergunto, mas porquê? Ou melhor, para quê? Ele só queria levar um puzzle que se perdesse o pior que acontecia era ter menos uma peça ou outra, what's the big deal? Mas mesmo eu tendo mantido a calma inicilamente, dei demasiada importância a um simples puzzle e quando "virei bicho" já nem um um boneco o deixei levar. E é esta a parte que me deixa exausta. A parte de educar e criar um pequeno ser para se tornar num ser humano com bons princípios e bem formado.

Realmente a maternidade é uma jornada todos os dias, para o resto da nossa vida em que às vezes nos fazem sentir pequeninos e perdidos sobre que rumo seguir.


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